segunda-feira, 19 de março de 2012

Kayo César Barbosa

Na madrugada de ontém recebo a notícia de que o amigo de turma, Kayo César, despediu-se da vida por vontade própria. Cometeu suicídio na loja de seu pai. As palavras que agora escrevo ainda me são estranhas e dotadas de um horror genuíno. 

Passei o dia todo buscando razões aparentes que pudessem tê-lo levado à tamanha angústia, não as encontrei. E questionamentos tantos me rondam a partir de então. Durante 4 anos dividi com Kayo a sala de aula, o que acompanha as aflições e expectativas habituais, mas, mergulhada nos meus afazeres nunca me debrucei sobre as expectativas e aflições que iam além dos muros da universidade. Talvez seja por isso que não tenho respostas para as minhas indagações. Porque apesar de lhe ter carinho eu nunca me permiti atravessar as barreiras da cordialidade, da superfície aparente de todos nós. 

De agosto do ano passado pra cá tenho passado por perdas desse tipo com uma frequencia quase assustadora para mim, e cada vez que isso ocorre um avassalador sentimento de culpa me toma. Há um mês, um amigo de infância foi vítima fatal de um acidente de moto, três dias antes do seu falecimento eu o vi. Com toda alegria de quem encontra um velho amigo, ele me parou pra conversar, acontece que eu tinha uma reunião, e cheia de urgência me despedi após o breve "Como Vai Você", sem ter idéia de que ali era "Nunca Mais".

Para além das minhas dúvidas sobre o modo como toco a vida e as pessoas que me rondam, me pego a pensar sobre como o sistema em que vivemos contribui para o horror de tudo isso. Até onde me consta, o suicídio do meu amigo teve cunho financeiro, engolido por todas as inquietações que exsurgem disto. No mundo em que o capital foi erguido ao mais alto patamar social, não ter e não viver caminham perigosamente lado a lado.