quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

De Quando o Coração se Apequena

Dia errado de emoções tortas. Invejo, de certa forma, as pessoas que sabem levar a vida sem deixar que o coração se apequene nas horas em que as emoções erradas nos inundam. Hoje, em uma noite que deveria ser lembrada com aquela nostalgia das coisas belas, tive, sem tantas razões aparentes, enchentes de solidão. O tempo passa e o mundo parece se tornar maior a cada passo que dou sozinha. Dia torto de emoções erradas. Ando já com o olhar calejado destas paisagens solitárias...

domingo, 18 de novembro de 2012

Palpite





Daqui de baixo eu olho você no seu palco a meia luz. Você e seu primeiro amor. Você e esse balanço ritmado dos seus pés contra o chão de madeira. Você e esse meio-sorriso de quem acha que dali, tem o controle das batidas do próprio coração.
Ao fim da noite você vai dizer que as coisas lá de cima parecem mais interessantes, e eu já tenho decorado esse discurso - os vermelhos dos vestidos que passam, os olhares de soslaio despejados aqui e acolá, a atenção maravilhada da jovenzinha no canto da porta. Seu olhar de artista só esqueceu de captar as entrelinhas de tudo isso. 
O palco é a visão, o chão é o tato. Você enxerga, eu sinto. Daqui de baixo eu ouvi os sotaques se misturarem no sofá à direita e as emoções da moça saltarem tão rubras quanto a cor da sua roupa, pra ganharem forma no "eu te amo" dito ao pé do ouvido. Nessa hora eu olhei pra você, e eu que te conheço de todos os ritmos, vi a lágrima de despedida rolando a meia luz, e o teu passo cadenciado marcando agora as batidas do meu coração em despedida. 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Constatação n° 2 - De ser Sólida e um Tanto Só.

Agora que passou eu me ponho a rir da simplicidade de tudo isso. Meses de uma angústia inquieta pela única razão de não conseguir encontrar a mim mesma em meio ao turbilhão de celulares que tocam e ordens que me gritam aleatoriamente. Tudo isto para no fim, em único dia de pleno descanso, lendo aqueles livros água-com-açúcar que tanto me agradam, perceber incrédula que a única razão de meu desencontro é a mudança que se solidificou em mim. Sei que parece bobo, mas essa constatação de que não sou mais eu mesma me deixou com aquela expressão embasbacada de quem houve o inesperado.

É que eu sempre fui tão sólida. E sempre um tanto só. E estes vastos momentos de solidão me permitiram conhecer a mim mesma de maneira muito segura. Perceber-me outra me tira os pés do chão. Eis que agora não prevejo as minhas atitudes, e me surpreendo todas as vezes que não consigo segurar as emoções que não cabem em mim e o choro vem sem aviso e permissão - assim sem pudor, assim sem medo. E dias atrás ao perceber que os rancores - vizinhos tão antigos do meu coração - agora se dissipam tão logo o dia acaba, me fez enxergar outra pessoa além do espelho. Acho que tenho medo, e um certo vazio de me ter abandonado assim.

É diferente olhar o caminho já incerto quando outras pernas parecem te guiar. Um esforço novo e solitário pela frente - traçar os limites de quem agora sou. E sabe aqueles medos bobos de outrora? Tenho medo de surpreender a mim e aos que me cercam, de tal maneira que um estranhamento mútuo se instale, e eu acabe me acostumando a ter os pés fora do chão. Quem disse que voar não tem a sua parcela de dor?


Que as mãos invisíveis do tempo afastem os nuncas que me batem à porta e eu possa voltar a caminhar com segurança para a minha varanda, com o chá dentro da caneca se misturando num balanço já conhecido.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Dos Medos Bobos

Há dias tomada por uma nostalgia constante, paro pra vasculhar as minhas lembranças guardadas a sete chaves e me ponho a reviver emoções quase pueris. Tenho a mania estranha de dar ao passado contornos confortáveis, de forma que uma névoa de encantamento sempre envolve o meu ontem.

Acho que sempre tive medo de não ser feliz, e já criança, temia que as boas coisas não se repetissem. Voltando em memória aos meus 05 anos de idade lembro que comecei a chorar baixinho no meio de uma brincadeira de esconde-esconde, por puro medo de nunca mais provar da felicidade como naquele dia. Eis uma de minhas estranhezas - sou toda feita de medos bobos.

Segundo o dicionário de cabeceira, nostalgia significa " estado melancólico causado pela falta de algo". Eu sinto melancolia nestes dias cinzentos - uma falta imensa de mim. E permaneço aqui silenciada pelas inquietudes imutáveis do que fui um dia.



sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Eis que de perto ninguém é normal

Incrível como só a convivência diária e mais intensa é capaz de revelar os detalhes que a superficialidade habitual de todos nós revela, bem como só estas situações-limite das quais é impossível se desvencilhar, nos mostram com clareza onde residem os nossos confins. Tenho nos últimos tempos, topado com os meus a cada esquina. E como é estranho ver-me nesta condição destemperada. É que nada é simples nestes caminhos que optei por seguir, e a condição de equilibrar a mim mesma nesta corda-bamba de emoções e milindres de tantos, faz os dias passarem enfadonhos e repletos de sensações pesadas de carregar. A vontade era redigir um manifesto contra a gente irresponsável e colar em murais e quadros de avisos, e nas portas dos quartos e telas de computadores, mas faz parte do exercício lidar com os egos inflados e ser interpretada ao avesso. 

E de preocupar-me à toa a boca amarga logo ao amanhecer e esse lado louco, confuso e destemperado dá amostras do que Renato Russo batizou de equilíbrio distante. Fico na dúvida se desejo uma dose a mais de paciência ou de loucura. Algum palpite?

domingo, 19 de agosto de 2012

20 anos Blues





Depois de passar uma noite inteira em claro pensando em problemas que em tese, não deveriam ser meus, amanheço com saudade. Saudade de mim mesma, e só quem já se perdeu de si sabe como é estranha a sensação de buscar-se sem respostas. Olho pra trás tentando enxergar em qual curva deste caminho abandonei meu equilíbrio, qual vislumbre do mundo externo me desprendeu do elo que tinha com as minhas convicções.
Chico Buarque e Maria Rita na playlist cantam os desencontros e desenganos de meus últimos tempos. Retomar o hábito de ouvi-los pela manhã, é tocar em uma parcela de vida que quero ter de volta. De pés descalços, Maria Rita deixa a pista do que tomo pra mim como única resposta satisfatória de meus questionamentos: continuar a trajetória é retroceder. É chegada a hora de retomar o caminho que interrompi em uma dessas encruzilhadas. A decisão é caminhar de volta, de costas para o mundo e de frente pra mim. 

"Eu tenho mais de 20 anos
E eu tenho mais de mil perguntas sem respostas"

domingo, 29 de julho de 2012

Constatações

Não fui feita para as intensidades. Constatação feita nos últimos tempos, nestes tempos de conturbação. Há um ano espero a vida se acalmar, lá fora e aqui dentro. Mas tudo aparenta uma espera em vão, são tempos de mar revolto e eu não fui ensinada a remar com pressa.

A calma sempre me acompanhou, e nela fiz morada por tão incontáveis vezes que me sinto desamparada tendo que sorver a vida em grandes goles.

O tempo se reveste de simbolismo pra mim que sempre senti necessidade de ter meus passos demarcados, meio que pra não perder o rumo desta lúdica caminhada. O dia de hoje passou sem você, e meu coração ainda habituado a dividir as emoções cotidianas terminou abarrotado de sentimentos difíceis de traduzir. Entre a saudade que se avizinhou anunciando as perdas - antigas e recentes - e a tão delicada emoção de tomar parte em uma história bela como a de meu afilhado, restou a certeza de que viver de urgências me bagunça a alma.

Me pego a pensar se daqui pra frente será sempre assim, e medos das mais variadas gamas me tomam neste anoitecer.

domingo, 8 de julho de 2012

Se Você Vier Me Perguntar Por Onde Andei



Andei nos últimos tempos me permitindo. E para mim, criada em meio aos rigores de uma família de pensamento conservador- no mais amplo sentido da palavra – significa me descobrir. Não que eu tenha saído por aí desvairada, provando o mundo de uma só vez. É que por aqui, em casa e em mim, cada passo adiante é um rompimento.

Há quem diga que vivi muito precocemente, que acabei por envelhecer – de alma mesmo-, muito cedo. Por hora eu tendo a discordar. Acho que vivo muito tardiamente. Não falo das responsabilidades da vida, talvez essas tenham me vindo deveras muito cedo. Falo dessa fatia confusa, desapegada e conflituosa, mas inegavelmente bonita e necessária da vida.

Desde lá sou um amontoado de questionamentos e comparações. Interpretar o mundo e as pessoas sempre foi um hobby, poucas coisas me fazem mais satisfeita que sentar num banco qualquer de uma praça e me encantar com as simplicidades estampadas em cada canto, em cada gente. Interpretar a mim é que tem sido o grande aprendizado, e a cada dia, isto de me conhecer, exige um esforço maior da minha mente tão cheia de pensamentos dispersos.

Hoje, num domingo de molho – do trabalho e da luta- e depois de um mês tão notadamente marcado por essa ambiguidade que me acompanha, eu olho para trás e tenho as mesmas dúvidas de ontem, e os mesmos questionamentos me rondam, e eu continuo a viver, e a buscar avidamente os tons vibrantes de fim de tarde e os sons que ecoam no interior ruidoso do meu sentir. Parece-me  então, que a minha teimosia sempre vence. Eu não desisto de olhar para o mundo em busca de mim, e de olhar para mim refletindo o mundo que quero viver por inteiro, em passo cadenciado e olhar curioso. Quantos goles de vida ainda hei de sorver! 

sábado, 7 de julho de 2012

Dos Pensamentos Perdidos


A vida parece gostar de nos pregar peças nos momentos mais inapropriados. Às vezes em meio à agitação do meu dia a dia e das dezenas de pessoas que acabo por encontrar por aí, uma sensação de vazio se instala. Nessas horas é sempre arriscado me dirigir aquele cordial “Como vai você?”.  É que normalmente o interlocutor não espera que a resposta venha em meio a um olhar perdido, na forma de um desconcertante “ para além disso, ando me sentindo só.” É que ultimamente esse exercício diário de achar o tom, me cansa a alma.

domingo, 27 de maio de 2012

Todos os Sonhos do Mundo

A escrita me encanta! É a tradução do sentir de alguém perpetuado ao ponto de o tempo não se fazer sentir quando outra pessoa anos à frente se vê refletida nas palavras de alguém que não teve nunca acesso às janelas da sua alma.  Fernando Pessoa em tabacaria perpetuou o que tenho latente em mim desde que conheci a União da Juventude Socialista :

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."


Este foi um fim de semana emblemático para o meu sentir: fotos para o convite da formatura do meu curso de Direito e congresso da UJS Pernambuco na data que marca os 10 anos de morte de João Amazonas, principal dirigente comunista brasileiro da terceira geração. 

No plano pessoal traço poucos propósitos "nada de coisas impossíveis para que a vida possa ser bem vivida", e por tal postura encaro quase que diariamente o temor de meus pais de que eu acabe por "não ser alguém na vida". E é inevitável no último ano de curso, me pegar frequentemente me questionando o que será daqui pra frente, engolida por aquela incerteza dos horizontes que se vislumbra, mas nao se pode tocar (não ainda). 

Durante o grupo de discussão sobre a Guerrilha do Araguaia que teve em João Amazonas um de seus emblemáticos heróis, recebo mensagem de texto de uma grande amiga e recém filiada " Me encontrei. UJS, esse é o meu lugar". O sms foi escrito enquanto ela ouvia o relato de Alanir Cardoso, presidente do PCdoB-PE, sobre a sua trajetória de lutas e dias amargos de clandestinidade e tortura. Durante as suas sete décadas de militância política, João Amazonas carregou sobre os seus ombros os sonhos do mundo. Estes mesmos sonhos deram forças à Alanir para aguentar 72 dias ininterruptos de tortura.

Tabacaria foi escrito em 1928, e agora no ano de 2012, preparando um projeto de mestrado que tem como centro A Guerrilha do Araguaia e vendo nos olhos a emoção de quem ouviu as palavras de Alanir Cardoso, eu descubro finalmente, o que significa ter em si "todos os sonhos do mundo". E vejo neles a beleza e poesia que faltavam às janelas de Fernando Pessoa.



sexta-feira, 11 de maio de 2012

Da retomada - Entre encontros e despedidas

O cotidiano agitado tem nos últimos tempos abafado os sentidos que latejam em mim e por hora padeço de saudade de olhar o mundo com a intensidade de quem deseja saber mais do que os seus vinte e poucos anos. Na última semana de março me decretei férias, e é incrível como sete dias foram capazes de reconfigurar as engrenagens adormecidas da minha alma.

A capital paraibana retomou o frio na barriga de se expor ao julgamento de quem é referência naquilo que se julga importante, o êxtase do caminho novo que desponta no horizonte, e aquela sensação tão peculiar de que há sentimentos e pessoas que o tempo e a distância não conseguem modificar. Rever e ser recebida pelo amigo de tanto tempo, Décio Raniere, e perceber que apesar de tantas mudanças, minhas e dele, o conforto de estar junto se mantém vivo reafirma a doçura que pode e deve ter a vida, resumida na constatação de fim de noite: " Sinto sua falta". Eu sempre vou sentir.

O Rio Grande do Norte por sua vez emoldurou com belezas explêndidas cada nuance de minhas intensidades. A satisfação e a calma de ter meses de paciente espera aplacados em dias de memórias infinitas, a celebração das coincidências da vida que permitiram conhecer amigos de luta em um café da manhã não planejado, a tão distante sensação de paz nos muros do Forte e o explorar noturno da vida de uma rua deslocada das redondezas. 

No caminho de volta, pela janela do carro havia a percepção de ter apreendido e guardado em cada canto de memória a doçura dos dias vividos em cheiros, cores e sabores tão diversos. Em tempos de cotidiano sem significado, me redescobrir capaz de sentir como antes foi de fato, transitar entre dois lados. Dois lados de mim mesma : o que cria raízes e estabelece meus limites, e esse outro tão novo e desconhecido, que trocaria grandes parcelas de segurança pelo reviver de um amanhecer adocicado.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Kayo César Barbosa

Na madrugada de ontém recebo a notícia de que o amigo de turma, Kayo César, despediu-se da vida por vontade própria. Cometeu suicídio na loja de seu pai. As palavras que agora escrevo ainda me são estranhas e dotadas de um horror genuíno. 

Passei o dia todo buscando razões aparentes que pudessem tê-lo levado à tamanha angústia, não as encontrei. E questionamentos tantos me rondam a partir de então. Durante 4 anos dividi com Kayo a sala de aula, o que acompanha as aflições e expectativas habituais, mas, mergulhada nos meus afazeres nunca me debrucei sobre as expectativas e aflições que iam além dos muros da universidade. Talvez seja por isso que não tenho respostas para as minhas indagações. Porque apesar de lhe ter carinho eu nunca me permiti atravessar as barreiras da cordialidade, da superfície aparente de todos nós. 

De agosto do ano passado pra cá tenho passado por perdas desse tipo com uma frequencia quase assustadora para mim, e cada vez que isso ocorre um avassalador sentimento de culpa me toma. Há um mês, um amigo de infância foi vítima fatal de um acidente de moto, três dias antes do seu falecimento eu o vi. Com toda alegria de quem encontra um velho amigo, ele me parou pra conversar, acontece que eu tinha uma reunião, e cheia de urgência me despedi após o breve "Como Vai Você", sem ter idéia de que ali era "Nunca Mais".

Para além das minhas dúvidas sobre o modo como toco a vida e as pessoas que me rondam, me pego a pensar sobre como o sistema em que vivemos contribui para o horror de tudo isso. Até onde me consta, o suicídio do meu amigo teve cunho financeiro, engolido por todas as inquietações que exsurgem disto. No mundo em que o capital foi erguido ao mais alto patamar social, não ter e não viver caminham perigosamente lado a lado.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Agora ex.

Há 3 anos, em um momento conturbado na militância e na vida pessoal  assumi a presidência da gloriosa União da Juventude Socialista de Santa Cruz do Capibaribe. Eu tinha pouca experiência, dúvidas mil, e ao meu lado um time de grandes militantes. A tarefa veio e com ela a decisão de me entregar ao máximo. Ao cotidiano já corrido, acrescentei horas a mais de estudo dos documentos e textos do partido e me estabeleci um ritual matinal de chá, economia e política.
No caminho de altos e baixos, enquanto encontrava os desafios já esperados, muitas águas rolaram e, lentamente, talvez até sem perceber, eu me despedi da Iana que havia em mim. Durante a plenária que elegeu o amigo e camarada de militância, Paulinho Coelho, um pequeno filme passou por minha cabeça, acompanhado da percepção do quanto eu havia aprendido. E senti orgulho, confiança e uma já pontinha de nostalgia de tudo que vivi e aprendi.
Pelas mudanças ocorridas em virtude da tarefa era difícil me dissociar dela. Ser presidente da UJS me definia tão bem que hoje, quando acordo pela primeira vez sendo ex-presidente, fui tomada por uma estranheza de mim mesma. A estranheza passou com as palavras de Tiago Oliveira, ao me dizer com a experiência de quem foi tanto e por tanto tempo, que ex é pra sempre.
Agora me olho no espelho e a Iana que me sorri de volta é quase uma estranha para a menina daquela tarde chuvosa de Março de2009. A que me sorri, é agora tesoureira da União dos Estudantes de Pernambuco, presidente do PCdoB Santa Cruz do Capibaribe e ex-presidente da União da Juventude Socialista, com muito orgulho.
Aguardo então, vir o cotidiano novo, e a dor e a delícia de ser quem agora sou.