domingo, 18 de novembro de 2012

Palpite





Daqui de baixo eu olho você no seu palco a meia luz. Você e seu primeiro amor. Você e esse balanço ritmado dos seus pés contra o chão de madeira. Você e esse meio-sorriso de quem acha que dali, tem o controle das batidas do próprio coração.
Ao fim da noite você vai dizer que as coisas lá de cima parecem mais interessantes, e eu já tenho decorado esse discurso - os vermelhos dos vestidos que passam, os olhares de soslaio despejados aqui e acolá, a atenção maravilhada da jovenzinha no canto da porta. Seu olhar de artista só esqueceu de captar as entrelinhas de tudo isso. 
O palco é a visão, o chão é o tato. Você enxerga, eu sinto. Daqui de baixo eu ouvi os sotaques se misturarem no sofá à direita e as emoções da moça saltarem tão rubras quanto a cor da sua roupa, pra ganharem forma no "eu te amo" dito ao pé do ouvido. Nessa hora eu olhei pra você, e eu que te conheço de todos os ritmos, vi a lágrima de despedida rolando a meia luz, e o teu passo cadenciado marcando agora as batidas do meu coração em despedida. 

2 comentários:

  1. Engraçado... Eu, observando o texto, notei que em nenhum momento você faz referência ao sujeito com adjetivos, não deixa transparecer o gênero. Embora sugira quando fala das admiradoras, não deixa clara a idéia do gênero masculino, quem prestar atenção nos detalhes, vai notar elementos (ainda que modernizados) da idealização da mulher, da primeira geração romântica. Outra sutileza foi o título, que remete a uma música cuja oficial intérprete - em cima de um palco, por sinal - é mulher.

    Não preciso saber do gênero do sujeito para sentir-me envolvido. Parece-me extremamente pessoal. Se eu estiver certo nesse sentido, é muita coragem abrir seus sentimentos e pensamentos assim para todo mundo poder olhar onde quiser.

    Parabéns pela profundidade.

    ResponderExcluir
  2. Na verdade, esse texto é o outro olhar desse aqui:

    http://www.politicanoturna.blogspot.com.br/2012/11/violoes-nao-tem-coracao.html

    Não é uma experiência pessoal, é que quando li o texto acima eu imaginei toda a cena vista do ponto de vista de quem assiste ao show. O título é palpite, pq é realmente um palpite do que pensava a mulher do texto olhando o palco.

    ResponderExcluir