quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Quando Você me Quiser Rever



Eu li um livro. Li um livro que me lembrou você da primeira aspa ao último ponto final. E não tinha nada a ver com você, muito menos com o que houve de nós dois. Mas o maldito livro era você, e era eu, e éramos nós - do ponto de partida à pausa final. Terminei o livro com aquele ar bobo de me ter encantado e com a ideia fixa de que só você seria capaz de partilhar a plenitude daquele gesto delicado.

Você aprovaria a sobriedade da capa, a escolha das páginas forçadamente envelhecidas, o mosaico de palavras soltas tão simples que atordoam o português rebuscado. Você aprovaria a Cláudia, e a Marlene, e os cenários que as emolduram. Você aprovaria a melodia, e o ritmo. E eu fico aqui imaginando a sua reação de me ver chegar à porta carregando o livro como presente de Natal à você - sem ranço de história finda sem final feliz, sem mágoa do telefonema que você não me deu, sem lágrima, e também sem paixão, só com aquele velho sorriso de satisfação de saber que meu pensamento faz morada no teu, e então, olhos nos olhos eu quero ver o que você diz.

Não, eu não sinto falta de você. Sinto saudade da história que eu não escrevi. Durmo com o livro sobre o peito, sentindo o cheiro de história nova com gosto de cumplicidade tão antiga. Eu intelectualizei o nosso amor, e topo com ele nos floreios de cada frase bem escrita.


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

De Repente Você.

Eu gosto da linha reta do teu nariz, e gosto mais ainda de poder olhar o contorno que ele dá ao teu rosto de menino enquanto dormes ao meu lado de manhã. De observar feliz e atenta o modo como teu incisivo aparece faceiro quando você ri aberto. De como seu olhar se apequena e flerta com o mundo nessas horas. 

Gosto das horas que tem você. Você no quarto me esperando sair enquanto perco as chaves pela centésima vez, e da sua voz me dizendo que eu sou mesmo muito enrolada pra sair. Gosto do gesto delicado das tuas mãos na minha cintura. De dormir envolvida no teu abraço, e de achar que o mundo é tão melhor assim. Gosto das possibilidades do teu sorriso. Dos mil modos como você já me olhou e do vermelho inevitável do meu rosto quando o meu olhar encontra o teu. Gosto do arrepio na espinha quando seus lábios sussurram um galanteio qualquer no meu ouvido. Gosto do som do meu próprio riso provocado por você. Gosto mais do meu sorriso quando você pergunta se ganhará um. Gosto mais da minha playlist quando ela embala o nosso sono, e da minha imagem refletida no espelho quando tem você passando distraído na cena. 

Gosto mais do mundo ao redor quando eu sei que basta olhar de soslaio pra encontrar você desejando uma cerveja gelada e um samba qualquer no fim do dia. Gosto mais de Caetano agora que os caracóis dos cabelos me lembram os teus entre os meus dedos. Gosto mais de Chico quando ele descreve o que você provoca no meu mundo. Gosto da inconsequência repentina do teu olhar travesso e de me deixar seguir, ainda que por pouco tempo, os teus passos na areia molhada da praia. Gosto do som do mar e de você dizendo que prefere mesmo outro som. Gosto da imensidão do mundo quando você me beija. Gosto mais do meu celular quando a vibração suave embaixo do meu travesseiro significa você perto de mim, mesmo com os tantos quilômetros que demarcam os limites físicos entre nós dois. Gosto de viajar quando a mala me leva pra mais perto de ti. Gosto de acordar e ser tomada por uma vontade incontrolável de descrever você e as sensações coloridas que me traz.

Era eu e de repente você. Era eu e meu caminhar solitário pelo mundo - de repente você e o passo mudou a marcha e o rumo. Brevemente você e meu coração bate no ritmo de quem tem nos olhos as paisagens que nunca imaginou vislumbrar. Gosto mais da palavra você, agora que ela tem cheiro, e voz, e carinho. 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Fragmentos de Saudade


"É carnaval e o teu vulto a sumir entre mil abadás nas ladeiras"
(Chico Buarque - tipo um baião)

É carnaval. Minha época favorita do ano. É carnaval e meu peito pesa feito chumbo - o Recife faz mesmo a minha alma lamentar. Desde que cheguei na noite de ontem, mais que as preocupações e os problemas a resolver, duas coisas ocupam todas as reminiscências do meu ser: o meu dissabor em estar aqui e a falta que você me faz. A Veneza brasileira tem agora agravantes - me lembra você em todas as pequenas coisas. Minha agenda na federal foi dispersada por um procura inconsciente de você - é difícil controlar as lembranças que saltam sem aviso do seu sorriso a perseguir meus dias; o endereço confortável da madalena é a tua chegada ao som de Adriana Calcanhoto no táxi; os ladrilhos do Recife antigo - aconchego das minhas memórias - conservam teus passos ao lado meu e desdenham a minha solidão com a graça encarcerada dos seus tempos de glória; até a espera chateada do ônibus que não passa me lembra você. Na Boa Vista o opcional aeroporto já passou duas vezes - na primeira, procurei teu olhar na janela; na segunda tive vontade de prender a respiração e embarcar, não para Boa Viagem, mas para uma Boa Viagem que me levasse até você.   

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Em combustão sob um cataplasma de intensidades.



Há dias, como hoje, em que pareço feita unicamente pra sentir. Nestes dias, ardo. Ardo numa febre de sentimentos, com a mesma intensidade de ódio e amor. E invariavelmente termino o dia inundada pelos arrependimentos de ter vivido em demasia. O desejo é minimizar. Minimizar a falta, a saudade, os erros que vislumbro em um único olhar pra trás. O desejo é escorregar de minha pele e encontrar repouso em qualquer lugar em que a linha que divide o êxtase e a solidão seja reflexo de um mundo em que eu possa sentir com calma. Dia desses entro em combustão sob esse cataplasma de intensidades, e enquanto isso não acontece,  sinto tristeza, a melancolia de desejar não sentir em demasia. 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Ah se a minha mala coubesse tudo que eu queria levar...

Ouvindo pela manhã a melodia da queridíssima Agda Moura, decidi simplesmente que ela me representa. Nessas idas e vindas dos meus últimos tempos, a coisa que mais fiz foi carregar meus sonhos de mala na mão, e na minha velha mania de revestir o passado de tons tão belos, eu me perco na saudade do muito que vivi.


quarta-feira, 12 de junho de 2013

Às margens do Capibaribe

Nestes dias de coisas últimas, detalhes me cercam o pensamento em uma constância quase ritmada. Não falo das obrigações e do que fazer ou não fazer, falo dos detalhes que em dias normais me escapariam por certo. Do peso das decisões tomadas e da incerteza dos caminhos por vir; do esforço inconsciente de estabelecer barreiras quase intransponíveis aos que me cercam agora; da falta antecipada de uma parcela de doçura e orgulho que permearam, sem dúvida, essa curta estrada.

Por vezes, a minha solidão me assola, e por vezes, como agora, é o único refúgio que desejo ter. Da última vez que deixei meus dedos correrem pelas teclas do computador pra falar quase que livremente de minhas angústias, me perguntava se encontraria, em algum momento da vida, um tanto de aconchego dos dias difíceis na mesa bagunçada do quarto ao lado. Hoje encontro nela, dispostas lado a lado, todos os mimos e pequenas alegrias cotidianas que pude carregar na mala, e nessa profusão de representações do meu eu, me perco de novo e de novo nas contradições tão acentuadas do que me faz feliz.

Às margens do Capibaribe fica agora uma parte da minha história, junto a um punhado de sentimentos impossíveis de traduzir.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Por hora



Deitada na cama estranho a paisagem da janela. No corredor, estranho os sons da vizinhança que desconheço. Na calma corriqueira de minhas leituras noturnas estranho a solidão de tudo isso.

No novo apartamento figuras coloridas deixadas com capricho estudado pintam o tom de aconchego, e me pergunto se amanhã, na outra semana, no mês que vem, eu olharei a mesa já bagunçada da sala ao lado e reconhecerei ali um tantinho de conforto dos dias pesados . Por hora, penso no afilhado que vai longe com seu riso fácil e minha saudade a doer nos ossos. Por hora, penso e repenso as minhas escolhas e os caminhos que me trouxeram até aqui. Por hora penso em você e no abandono consciente de meus anseios. Penso em mim e não me encontro entre as tantas camadas de ilusão incrustadas no meu eu.  

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Do Infinito



Chico Buarque toca há dias repetidamente na playlist, pra me lembrar que eu tenho ainda tantos sonhos. O medo me cobre a cada anoitecer como um manto de sentimentos indesejados, pra lembrar que meus sonhos determinam a medida do arrepio que meus pensamentos alcançam. Num arroubo de coragem enfrento a vida, e ironicamente miro a porta dos possíveis fins com o infinito a adornar o colar no pescoço.