Daqui de baixo eu olho você no seu palco a meia luz. Você e seu primeiro amor. Você e esse balanço ritmado dos seus pés contra o chão de madeira. Você e esse meio-sorriso de quem acha que dali, tem o controle das batidas do próprio coração.
Ao fim da noite você vai dizer que as coisas lá de cima parecem mais interessantes, e eu já tenho decorado esse discurso - os vermelhos dos vestidos que passam, os olhares de soslaio despejados aqui e acolá, a atenção maravilhada da jovenzinha no canto da porta. Seu olhar de artista só esqueceu de captar as entrelinhas de tudo isso.
O palco é a visão, o chão é o tato. Você enxerga, eu sinto. Daqui de baixo eu ouvi os sotaques se misturarem no sofá à direita e as emoções da moça saltarem tão rubras quanto a cor da sua roupa, pra ganharem forma no "eu te amo" dito ao pé do ouvido. Nessa hora eu olhei pra você, e eu que te conheço de todos os ritmos, vi a lágrima de despedida rolando a meia luz, e o teu passo cadenciado marcando agora as batidas do meu coração em despedida.