O amor é filme. E eu não digo disso pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama. O amor é filme porque é história que as vezes a gente constrói, desconstrói e até inventa. Eu adoro um amor inventado. Mas desses amores inventados bem reais - com script, trilha sonora e créditos no final. E como diz a melodia se não for isso eu não me importo. Não dói porque é fantasia. E no mundo da minha fantasia cabe tudo - eu te imagino, te conserto e faço a cena que eu quiser.
Mas com você eu jurei que não ia ser assim. Jurei naquele dia em que eu acordei e você me disse " Fica pra sempre." Eu jurei que era amor o próximo capítulo. Mas eu desisti de escrever mais uma vez o mesmo enredo. Desisti porque eu percebi que não precisava te inventar. Você tava ali e era claro e verdadeiro. E tudo em você me agradava a alma. Não havia nada pra consertar. Não era amor, mas a realidade de você era melhor que a cena da minha aquarela.
Você viveu no meu documentário. E dessa vez, eu que vivi na tua fantasia. Você inventou nós dois. Criou uma história nova por cima da tua, fotografou nossos corpos em branco e preto e antes que estivesse em cartaz você fez o corte, apagou a luz e fechou a cortina.
Nos bastidores, a gente caminha junto no set vazio. Ainda hoje você jura que me amou. E em algum lugar da minha memória, enquanto o cheiro de pipoca se esvai, o zoom da ré e sobem os meus créditos em forma da canção que persegue o sentimento: não pense que eu pensei nada além do que pensamos juntos.*
Três dias depois do teu abandono eu percebi o óbvio: o amor é filme. E a gente discordou do gênero. Eu prefiro fantasia e você adora um bom drama.
*Canção da linda Ágda Moura.