sábado, 22 de agosto de 2015

O Amor é Filme



O amor é filme. E eu não digo disso pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama. O amor é filme porque é história que as vezes a gente constrói, desconstrói e até inventa. Eu adoro um amor inventado. Mas desses amores inventados bem reais - com script, trilha sonora e créditos no final. E como diz a melodia se não for isso eu não me importo. Não dói porque é fantasia. E no mundo da minha fantasia cabe tudo - eu te imagino, te conserto e faço a cena que eu quiser. 

Mas com você eu jurei que não ia ser assim. Jurei naquele dia em que eu acordei e você me disse " Fica pra sempre." Eu jurei que era amor o próximo capítulo. Mas eu desisti de escrever mais uma vez o mesmo enredo. Desisti porque eu percebi que não precisava te inventar. Você tava ali e era claro e verdadeiro. E tudo em você me agradava a alma. Não havia nada pra consertar. Não era amor, mas a realidade de você era melhor que a cena da minha aquarela. 

Você viveu no meu documentário. E dessa vez, eu que vivi na tua fantasia. Você inventou nós dois. Criou uma história nova por cima da tua, fotografou nossos corpos em branco e preto e antes que estivesse em cartaz você fez o corte, apagou a luz e fechou a cortina. 

Nos bastidores, a gente caminha junto no set vazio. Ainda hoje você jura que me amou. E em algum lugar da minha memória, enquanto o cheiro de pipoca se esvai, o zoom da ré e sobem os meus créditos em forma da canção que persegue o sentimento: não pense que eu pensei nada além do que pensamos juntos.*

Três dias depois do teu abandono eu percebi o óbvio: o amor é filme. E a gente discordou do gênero. Eu prefiro fantasia e você adora um bom drama. 

*Canção da linda Ágda Moura.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Das Coisas Que Eu Não te Contei

Um dia depois do teu adeus não tirei você da cabeça um só minuto. Senti teu cheiro em um estranho qualquer na rua, sintonizei o rádio naquela estação que eu ouvia sempre pra pensar em você,  memorizei uma passagem daquele livro que você mencionou numa conversa qualquer, e consciente, esbarrei nos fragmentos de nós dois durante todo o dia.

O período de fossa parece ativar uma área qualquer do pensamento que faz as memórias aparecerem em detalhes só pra espezinhar o sofrimento. Aí eu me pus a pensar sem querer em todas as pequenas coisas que eu te fiz. Em todos os pequenos gestos que eu dediquei a você. Em todas aquelas gentilezas que se faz por gostar, mas não se conta porque o objetivo não é se envaidecer.

Fiquei pensando se você notou que eu dormia 4 horas por noite quando estava contigo, que chegava já cansada e me arrastava da cama no dia seguinte pra assistir aula num esforço arretado pro meu relógio biológico preguiçoso pra estar com você. Que eu esperei três horas no hall do prédio
porque você teve um imprevisto e ia se atrasar. Que eu nem bebo, mas agora entendo de cerveja pra saber te surpreender. Lembrei que eu nunca te contei que aquele dia em que eu perdi o celular eu não ia sair com ele, mas resolvi levar porque você falou comigo na saída e eu não quis te deixar sem resposta. E que eu viajei 194 quilômetros num final de semana em que eu não pretendia sair de casa porque você teve dor nas costas.

Um dia depois do teu adeus eu amaldiçoei meu esforço, teu nome, tuas costas, e o dia que te conheci. Eu apaguei do celular nossas conversas, tuas fotos e o número do taxista que me levava pra casa. Eu odiei a tua rua, o Belchior, o chocolate com amendoim e o Luis. E naquele dia, na ira da fossa, eu odiei encontrar aquela foto em que eu te beijo o rosto e você sorri de olhos fechados. Então, um dia depois do teu adeus eu conservei aquela fotografia, mesmo odiando você e o meu nariz naquela imagem, porque no fim ela era uma prova incontestável de um tanto de bem que a gente também se fez.