domingo, 28 de junho de 2015

Tempo.


Celebrando a calma dessa noite preguiçosa de domingo, aprendo como criança encantada, a manusear o presente recebido esses dias - o dicionário analógico de Francisco Ferreira Azevedo. Buscando a esmo as sensações que gostaria de saber traduzir em palavras, opto pela Divisão Número V - tempo, e a cada palavra procuro consciente qualquer explicação de nós dois. Qualquer coisa que esclareça essa gangorra emocional na qual tento me equilibrar no entremeio de você e eu, entre os dois extremos daquela noite em que você me disse "eu te amo" e aquela outra em que o teu olhar me atirou um "eu não sei".

Você pra mim nasceu pra ser fugaz, como aquele olhar que me lançou no meio da multidão. Eu pra você tinha de ser por passagem - embarcar na tua emoção e partir sorrateira como a brisa na tua janela nos dias quentes de verão. Acontece que o tempo correu devagar nos nossos lençóis, e a pressa de te deixar, morreu naquele beijo. Acontece que um dia me peguei sorrindo da alegria inocente de poder bagunçar teus cabelos ao amanhecer, e naquela hora inexata eu percebi que queria ficar.

O tempo matou de cansaço o meu desejo de correr de você e você, descuidado, segurou minha mão quando eu ameacei partir. Justo quando o tempo me fez decorar o cheiro do teu shampoo de laranjeira, descobrir a cicatriz miúda nas tuas costas e saber o tempo da tua respiração quando adormece, a paixão abandonou o nosso olhar, e tudo que ficou perpétuo - o vinho chileno daquela noite, a cerveja importada do empório aconchegante, o livro do Chico e a canção da Marisa - ganham agora a marca triste de tudo aquilo que marcou, mas se esvaiu.

Tempo absoluto (adjetivo): permanente, pereno, eterno, você ficou em mim.