Agora que passou eu me ponho a rir da simplicidade de tudo isso. Meses de uma angústia inquieta pela única razão de não conseguir encontrar a mim mesma em meio ao turbilhão de celulares que tocam e ordens que me gritam aleatoriamente. Tudo isto para no fim, em único dia de pleno descanso, lendo aqueles livros água-com-açúcar que tanto me agradam, perceber incrédula que a única razão de meu desencontro é a mudança que se solidificou em mim. Sei que parece bobo, mas essa constatação de que não sou mais eu mesma me deixou com aquela expressão embasbacada de quem houve o inesperado.
É que eu sempre fui tão sólida. E sempre um tanto só. E estes vastos momentos de solidão me permitiram conhecer a mim mesma de maneira muito segura. Perceber-me outra me tira os pés do chão. Eis que agora não prevejo as minhas atitudes, e me surpreendo todas as vezes que não consigo segurar as emoções que não cabem em mim e o choro vem sem aviso e permissão - assim sem pudor, assim sem medo. E dias atrás ao perceber que os rancores - vizinhos tão antigos do meu coração - agora se dissipam tão logo o dia acaba, me fez enxergar outra pessoa além do espelho. Acho que tenho medo, e um certo vazio de me ter abandonado assim.
É diferente olhar o caminho já incerto quando outras pernas parecem te guiar. Um esforço novo e solitário pela frente - traçar os limites de quem agora sou. E sabe aqueles medos bobos de outrora? Tenho medo de surpreender a mim e aos que me cercam, de tal maneira que um estranhamento mútuo se instale, e eu acabe me acostumando a ter os pés fora do chão. Quem disse que voar não tem a sua parcela de dor?
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