segunda-feira, 19 de outubro de 2015

365



E naquela noite eu fui pronta. Pronta pra descobrir se as palavras que haviam alimentado minhas últimas semanas faziam sentido estando fora do celular já antigo, desprotegidas daquela luz azul que se projeta da tela e faz tudo parecer tão perto e tão irreal. Fui movida por um desejo já não tão novo de me permitir. De me arriscar a sentir e de sentir que me arrisquei. Fui pronta pra dizer o teu nome forte e demoradamente pra sentir qual era o efeito que causava no mundo real o resvalar das tuas letras invisíveis nos meus lábios. Saboreei, como quem soletra, o gesto simples de dizer o teu nome em voz alta, até as palavras saírem redondas, com a maciez de quem pensa palpar o invisível, de quem pensa, falando, projetar no universo os sentimentos ainda em gestação. Falar você era admitir ,enfim, a existência das tuas impressões fazendo morada no meu pensamento. Era admitir você em mim, com todas as luzes e sombras que havia nisso. Fui pra descobrir que o teu nome nos meus lábios tinha gosto de fruta colhida do pé. Pra 365 dias depois atestar que a palavra tem um místico poder, e que  desde aquele dia ecoa no tempo o que resta de nós dois num farfalhar das tantas páginas de burocracia que o desejo revelado em palavras deixou escorregar. 

Mutatis Mutandis tudo continua igual.

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